Ética e uso responsável da inteligência artificial. O Congresso Copedem 2025 começou nesta quinta-feira (10/4), no Rio de Janeiro, marcando duas décadas de atuação do Colégio Permanente de Diretores de Escolas Estaduais da Magistratura.
Com o tema “Construindo o futuro com tecnologias inteligentes: perspectivas contemporâneas no desenvolvimento do sistema judicial, do direito e dos negócios”, a abertura do evento foi realizada pelo anfitrião, o desembargador Marco Villas Boas — presidente do Copedem e diretor geral da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat) — que enfatizou a relevância do momento vivido pelo Judiciário brasileiro diante das transformações aceleradas provocadas pela inteligência artificial generativa.
Em seu discurso, o desembargador chamou atenção para os potenciais da tecnologia, mas alertou para os riscos de um avanço não acompanhado por valores éticos.
“A tecnologia deve servir à humanidade, e não o contrário. A inteligência artificial, por mais avançada que seja, não pode substituir o ser humano, especialmente no que tange ao julgamento, à empatia e à sensibilidade que devem permear a justiça”, afirmou.
Durante sua fala, o presidente do Copedem também lembrou que, embora o futuro traga novas possibilidades para a Justiça, esse caminho precisa ser construído com base no pensamento crítico, na equidade e na proteção dos direitos humanos. “Nosso desafio é explorar caminhos para uma implementação responsável. Como podemos usar a IA para tornar a justiça mais eficiente e acessível, sem perder de vista a dignidade humana e o devido processo legal?”, questionou.
O evento, que vai até sábado (12), reúne ministros, desembargadores, pesquisadores, especialistas do setor privado e representantes de instituições nacionais e internacionais em uma programação intensa, com painéis e experiências práticas de uso de tecnologias no sistema de justiça.
Representando o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Ricardo Couto de Castro, o diretor-geral da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, desembargador Cláudio Dell’Orto, também apontou, em sua fala, o papel das escolas judiciais na construção de um Judiciário preparado para o futuro.
“A formação é o ponto de partida, mas é o aperfeiçoamento contínuo que garante que juízes e desembargadores estejam preparados para os novos desafios e tendências. E a IA é uma dessas frentes. Se os advogados já estão usando essas ferramentas, os juízes também precisam estar prontos para isso”, pontuou.
A ex-senadora Kátia Abreu elogiou a atuação do desembargador Marco como liderança respeitada no Tocantins e compartilhou sua experiência no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, onde preside grupos de trabalho voltados à educação no cárcere e à proteção de crianças encarceradas com suas mães. “Temos a convicção de que muitas dessas crianças poderão ser desencarceradas em breve”, afirmou. Kátia Abreu também reconheceu a importância do tema do congresso.
“Confesso ter dificuldade com a tecnologia por conta da nossa geração, mas reconheço os avanços que ela traz ao Judiciário”, disse.
A presidente da OAB-RJ, Ana Tereza Basílio, também ressaltou os benefícios da IA como ferramenta de apoio ao trabalho jurídico, mas fez um alerta importante. “O computador pode ser eficiente, mas não tem empatia, compaixão ou sensibilidade – qualidades indispensáveis à função de julgar. O mesmo vale para a advocacia. A IA deve ser usada com proficiência, mas nunca como substituta do trabalho humano”, explicou.
Já o ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça, reforçou a necessidade de um debate ético e regulatório sobre o uso de tecnologias na Justiça, destacando o papel do Judiciário na mediação entre inovação e responsabilidade institucional.
Na ocasião, também foi realizada a entrega da Medalha Desembargador Antônio Rulli Júnior, honraria que reconhece contribuições relevantes ao sistema de justiça. Foram agraciados o desembargador Cláudio Dell’Orto (em nome do desembargador Ricardo Couto), a senadora Kátia Abreu e a presidente Ana Tereza Basílio.
Programação
Ao longo do primeiro dia de evento, os participantes acompanharam palestras que abordaram desde o futuro da inteligência artificial até desafios relacionados à proteção de dados, jurimetria, soberania tecnológica e propriedade intelectual.
Entre os destaques estiveram o inventor digital Miguel Lannes Fernandes, o ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, o professor Luca Belli, o perito Domingo Montanaro, o secretário de TI do TJ-RJ Daniel Haab, a juíza Caroline Tauk, a advogada Ana Carolina Cagnoni, entre outros especialistas convidados.