O enfrentamento da pandemia global no Brasil, com dados preocupantes em números de óbitos, e os conflitos sociais já inerentes à realidade brasileira que se amplificaram mediante a chegada da Covid-19 em todos os estados do País foram os temas de uma live promovida pela Escola Superior da Magistratura do Piauí (ESMEPI). Na ocasião, o presidente do Colégio Permanente de Diretores de Escolas da Magistratura (COPEDEM), desembargador Marco Villas Boas, participou como palestrante, a convite do desembargador Edvaldo Moura, que mediou o evento.

Entre as discussões, o panorama político e social e a participação da sociedade na contribuição para a contenção dos níveis de contágios, os impactos econômicos, a diminuição da geração de postos de trabalho, o fechamento de estabelecimentos comerciais e os índices de violência contra a mulher foram abordados em uma discussão que acompanha os dias atuais com real preocupação.

Em sua fala, a juíza de direito Keiyla Ranyeri ressaltou a importância da garantia da segurança das mulheres brasileiras, que, confinadas, podem estar mais suscetíveis à violência doméstica. “Nós já temos essa realidade que as minorias vivem em situações desfavoráveis, mas eu visualizo com certa preocupação, um olhar para um grupo específico: o das mulheres. Nós estamos acompanhando as notícias referentes ao aumento dos casos de violência doméstica. No contexto da pandemia em geral, os cuidados das pessoas enfermas ou necessitadas de atenção especial recaem fundamentalmente nas mulheres, são elas que acabam suportando o ônus de cuidar dos pais idosos, das crianças, das aulas online, afazeres domésticos e uma sobrecarga que já era suportada por elas, especialmente para as mulheres de baixa renda que não têm mais disposição”, afirmou.

Já o presidente do Copedem, desembargador Marco Villas Boas, mencionou que, no Tocantins, a pandemia atinge também mulheres agricultoras familiares, integrantes de comunidades tradicionais (indígenas e quilombolas) e pequenas extrativistas, como as quebradeiras de coco da região do extremo-norte do Tocantins, também conhecida como bico do papagaio. Ressaltou que, referente à vitimização da mulher neste cenário de recolhimento e restrições sanitárias, existe certa dificuldade de promoção de direitos não só do homem, como também da mulher, sendo um problema de deficiência estrutural. “Eu penso que a mulher é vitimizada por ter a concepção de que ela é serviçal do homem. Isso precisa ser mudado. Temos aberto espaços em que a mulher tem a sua visibilidade. É preciso ter políticas públicas e gastos de recursos para conscientização e promoção e empoderamento das mulheres para que elas possam se sentir seguras e dignas de conquistarem os seus espaços sem serem tolhidas”, ressaltou.

O professor Alcir Marcus Borges traçou um paralelo entre a política dos direitos humanos ao longo das últimas três décadas, que culminaram com as tentativas atuais de supressão e redução de direitos em que a sociedade brasileira vive atualmente, intensificado pela chegada da Covid-19. “É realmente preocupante a ideia de que nós temos de resistir, e não construir, de ampliar, de valorizar e de inovar. A busca da paz perpétua, de um futuro melhor, fica aqui. A gente vê, nos cenários das mídias, as valas comuns se multiplicando, numa realidade disruptiva”, argumentou.